[00:23.455]Pai, afasta de mim esse cálice[00:36.955]De vinho tinto de sangue[00:40.456]Pai, afasta de mim esse cálice[00:53.713]De vinho tinto de sangue[00:58.458]Como beber dessa bebida amarga?[01:02.464]Tragar a dor, engolir a labuta[01:06.201]Mesmo calada a boca, resta o peito[01:09.961]Silêncio na cidade não se escuta[01:13.952]De que me vale ser filho da santa[01:17.955]Melhor seria ser filho da outra[01:21.716]Outra realidade menos morta[01:25.711]Tanta mentira, tanta força bruta[01:28.206]Pai, afasta de mim esse cálice[01:41.459]De vinho tinto de sangue[01:44.954]Como é difícil acordar calado[01:48.951]Se na calada da noite eu me dano[01:52.703]Quero lançar um grito desumano[01:56.706]Que é uma maneira de ser escutado[02:00.456]Esse silêncio todo me atordoa[02:04.705]Atordoado eu permaneço atento[02:08.451]Na arquibancada pra a qualquer momento[02:12.214]Ver emergir o monstro da lagoa[02:14.709]Pai, afasta de mim esse cálice[02:27.950]De vinho tinto de sangue[02:48.214]De muito gorda a porca já não anda[02:51.950]De muito usada a faca já não corta[02:55.460]Como é difícil, pai, abrir a porta[02:59.454]Essa palavra presa na garganta[03:03.210]Esse pileque homérico no mundo[03:06.461]De que adianta ter boa vontade[03:10.196]Mesmo calado o peito, resta a cuca[03:13.958]Dos bêbados do centro da cidade[03:16.215]Pai, afasta de mim esse cálice[03:28.955]De vinho tinto de sangue[03:32.450]Talvez o mundo não seja pequeno[03:35.960]Nem seja a vida um fato consumado[03:39.699]Quero inventar o meu próprio pecado[03:43.450]Quero morrer do meu próprio veneno[03:46.954]Quero perder de vez tua cabeça[03:50.461]Minha cabeça perder teu juízo[03:54.199]Quero cheirar fumaça de óleo diesel[03:57.707]Me embriagar até que alguém me esqueça